Um Tonto e um Drone
- Rebel Girl
- 17 de mar.
- 4 min de leitura
Atualizado: 18 de mar.
Uma vida em condomínio

É domingo. O dia em que o bairro inteiro da minha pacata cidadezinha de interior segue uma regra clara, e não dita: não se faz barulho, pelo menos não até as 4 da tarde, em dias de jogo do Flamengo.
Eu, sentandinha na minha rede com minha caneca de café breguíssima da Barbie que meu marido me deu, a coisa mais feia e linda ao mesmo tempo que eu possuo, estávamos em paz na varanda editando posts pro Instagram, quando do absoluto nada, começa...
Algum grandissíssimo filho da puta resolveu começou a cortar grama hoje. No domingo.
Inaceitável!
Sábado é o dia em que todos os meus vizinhos, juntos, fazem manutenção em seus jardins. Jardins esses que são apenas usufruídos aos fins de semana, porque nenhum deles realmente mora aqui. Mas apesar de odiar que um dos meus dias de descanso acaba sendo impactado por quatro máquinas corta-grama ao mesmo tempo, eu já aceitei.
Mas o que é isso agora, no domingo?
Foi quando eu vi. Aquilo. Virei pro lado e dei de cara com um drone. Sim, uma porcaria de um drone, há poucos metros de distância da minha cara, com a luzinha ligada, me olhando.
O barulho se assemelha aos equipamentos de jardinagem, por isso me confundi. Mas quando você presta bem atenção, parece mais com um enxame de abelhas. E realmente, o barulho estava perto demais pra ser um cortador. Mas é domingo!!! Eu nunca imaginei que ia ter que identificar o que é um barulho em um fucking domingo!
Meu marido sentado à minha frente, na varanda, olha pra mim, e eu pra ele.
“Tem um drone ali.” Eu falei. Nosso toldo escondia dele a visão do espiãozinho alado, mas eu estava no centro da imagem.
Eu, descabelada, porque tinha acabado de sair da cama, com meu pijama de mulher maravilha, sem sutiã e lotada de remelas. Linda, aos olhos do meu marido, mas zero preparada pra ser vista pelo mundo. Afinal, eu estou na minha varanda, há dezenas de metros do nível da rua, claramente não estava esperando nenhuma visita alí!
Falando baixo, mas não baixo suficiente pra não ser ouvido meu marido fala “Eu não tô vendo ninguém operando lá embaixo. O dono deve estar no nosso prédio. Ele buscou mais um pouco e identificou o ser inconveniente.
Era o “cara do sinalizador”.
Sim. Meu vizinho debaixo à direita, que eu não conheço pessoalmente e nem sei o nome, foi adoravelmente apelidado por nós (apelido este que foi, posteriormente espalhado pra todos os outros moradores do prédio, por nós) de cara do sinalizador. Por quê tamanha crueldade, você me pergunta? Porque na véspera de ano novo de 2023, esse (des)querido achou que seria uma ótima ideia acender um sinalizador na varanda dele. Sim, aqueles que se usa em navegações, quando estas estão à deriva no mar.
Eu estava eu exatamente onde estava hoje, deitada na minha rede, lendo as últimas páginas do meu último livro do ano de 2023, às 22h do dia 31 sob a luz de um pequeno abajur situado na minha sala, quando de repente, um clarão vermelho surge atrás de mim.
Não há palavras pra explica o susto que eu tomei. Pulei da rede e saí correndo em menos de 3 segundos, gritando “Amooooooooor, tem um negóção vermelho lá fora!”.
A parada iluminava toda minha sala de vermelho, em poucos minutos todo o ambiente era uma cena do Iluminado (aquela do elevador).
Quando ele foi averiguar do que se tratava, viu nosso vizinho na varanda, com o braço esticado pra fora da área de seu apartamento, com um sinalizador na mão. Ele claramente acendeu o negócio na sala de casa, se desesperou, e decidiu ficar com a mão pra fora do prédio esperando o tempão que leva pro negócio apagar. Quando os olhos do meu marido encontraram os dele, vergonha e uma atitude de “agora já foi né” passaram pela cara do sujeito.
Pronto. “Cara do sinalizador”.
Então hoje, essa pérola de ser humano, que provavelmente entrou em alguma trend de drone, encomendou e acabou de receber seu brinquedo pelo correio, pensou (assim como pensou em 2023), que experimentar um aquilo na sua própria varanda era uma ótima ideia! Não na rua, onde você não filma ninguém de forma agressiva e pessoal, não, imagina! Na própria varanda!
Quando meu marido disse “é o cara do sinalizador.”, eu respondi “Faz sentido.” Tudo fazia sentido se tratando daquele tonto.
Então eu e minha carinha de Gremlin nervoso lançamos um dedo do meio em direção ao inseto voador gigante, já que o fofo estava filmando. Mas isso não arrefeceu a audácia do vizinho. Foi só ao som de seu próprio apelido (o mencionado anteriormente) que ele se lembrou da vergonha passada e guiou seu bicho voador de volta pra casa. Como exercício psicológico social, foi muito interessante. Como interação social de domingo, nem tanto.
Mal sabe ele que amanhã o apelido dele vai sofrer um upgrade pra “tonto do drone”. E que meu marido está investindo, pela primeira vez, em uma arma de chumbinho, caso tenhamos futuras interações.
Bom dia.
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