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Eu ♥ Chaleira

  • Foto do escritor: Rebel Girl
    Rebel Girl
  • 24 de fev.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 11 de mar.

Uma carta de amor a um utensílio doméstico


A vida adulta é cheia de perrengue, obrigações das mais diversas, desde externas até as que você inventa pra si mesmo (como cuidar do seu corpo diariamente pra ser menos crocante na velhice).


Mas cara, tem certas coisas que ela pode proporcionar que não tem como ignorar.

Você já teve uma chaleira? Sim. Uma chaleira, daquelas de boca de fogão, de inox ou colorida, com o cabinho preto que você precisa pegar com um pano de prato pra não se queimar inteiro. Não elétrica, nem colorida vibes, apenas uma simples e modesta chaleira.


A chaleira é um item que me deixou surpreendentemente impactada. E não venha me dizer que uma leiteira ou uma panela vão ter o mesmo efeito. Algum deles faz fuíííí quando a água ferve? Você consegue ser avisado a distância de que o momento de passar seu querido cafezinho chegou, simplesmente por um apito oriundo de um objeto inanimado?



"“Ah, mas a cafeteira não sei o que, não sei que lá”. Guarde sua cafeteira pra você, ninguém aqui liga pra ela e pro seu protagonismo em formato de timer. Estou falando aqui de gente que passa café com coador. Retire-se."

Imagine só, você, antes mesmo de sair pra trabalhar tem pelo menos 5 tarefas pra performar, seu café fresquinho ainda não tá pronto, e você deixa lá a água esquentando enquanto estende e dobra roupa na lavanderia ali ao lado. Precisa ficar olhando pra ver se chegou na fervura? Não! Fuíííí... Não há prazer maior que fazer uma coisa enquanto outra está sendo feita que você não precisa acompanhar.


“Ah, mas a cafeteira não sei o que, não sei que lá”. Guarde sua cafeteira pra você, ninguém aqui liga pra ela e pro seu protagonismo em formato de timer. Estou falando aqui de gente que passa café com coador. Retire-se.


O impacto da chaleira na minha vida não pode ser menosprezado. Ela traz a segunda coisa que me dá mais prazer: ver coisas limpinhas. A possibilidade de esterilização de uma superfície enorme (vulgo a bancada de granito da minha cozinha) com sua água fervendo, cascateando da saída do caninho, enquanto o detergente escorre pra dentro da cuba, meu Deus que delícia.


"A chaleira é divina (...). Ela elevou a idade mental da minha cozinha em pelo menos 15 anos, sem abrir mão do lúdico e da estética (afinal, inox combina com tudo, não?)"

A chaleira é divina, mas não só de fins práticos ela é rainha. Ela sentada na minha boca predileta do fogão, sem fazer nada, já dá ao combo fogão de 4 bocas e pano de prato decorativo de cosmonauta, uma vibe de adulto. Adulta descolada (como só uma adulta não descolada diria). Ela elevou a idade mental da minha cozinha em pelo menos 15 anos, sem abrir mão do lúdico e da estética (afinal, inox combina com tudo, não?). Ela denota que há um certo nível de organização no dia da pessoa que a tem, pois essa pessoa irá tomar tempo para fazer qualquer coisa que precise de uma chaleira. E pessoas que possuem esse tempo, que organizam seu tempo, com certeza, são muito adultas.


Confesso que a ideia de ter uma nunca havia passado pela minha cabeça, mesmo que eu tenha passado toda minha infância e adolescência na presença de uma. Minha mãe é muito fã. Hoje, inclusive, ela já passou pra drogas mais pesadas, como a chaleira elétrica (chaleira essa que causou um curto-circuito no apartamento dela, e fez com que toda fiação tivesse que ser atualizada – parabéns chaleira elétrica). Mas é aquela coisa né, a gente muitas vezes desdenha o que tem, eu não conseguia ver a mágica objeto.

Foi apenas recentemente, na casa de uma amiga, que eu vi seu completo potencial, ao vivo.. Temos a mesma faixa etária, mas com certeza eu ainda estou na adolescência da idade mental se comparada a dela e eu assisti ela banhar seu granito com água fervendo, se livrando de toda salmonela presente na bancada pós corte de frango pra um estrogonofe. Eu e minha mania de limpeza acabamos sonhando com aquilo.


Já tinha visto muitas chaleiras antes, modelos lindos inclusive, decorados, e nunca tinha me rendido. Passava batido, e eu ficava lá com minha leiteirinha que não apita, pequena, que sempre fazia pouco café (por que será né? Será que ela foi feita pra esquentar o acompanhamento do café, e não o próprio?).


Será que o problema era que a chaleira original era da minha mãe? (Freud, chega aqui!). Nunca saberemos. Porque eu me rendi. Voltei de viagem e comprei a minha. Não há mais volta daqui.


 
 
 

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